Por diversas vezes assisto a comentários do tipo, “Em 4 anos o meu crédito habitação só baixou 7.000 euros e pago uma prestação de 500 euros por mês. Como é possível? Já paguei 24 000 euros!!!”.
A maioria das pessoas contabiliza no seu orçamento familiar o valor total da prestação. No entanto, ficaríamos chocados se soubéssemos quanto pagamos de juros todos os meses. É certo que o juro é o custo da antecipação do consumo ou de uma necessidade, no entanto, esse custo nem sempre é contabilizado no momento de pedir o crédito.
Para que tenha uma percepção do verdadeiro custo do crédito todos os meses vamos considerar diferentes tipos de crédito com taxas de juro médias e avaliar o quanto todos os meses paga de juros. Proponho-lhe que faça o mesmo para os seus. Reúna todos os extractos referentes a crédito que suporta mensalmente e verifique qual a parcela de juros que paga em cada prestação.
Qual o Valor dos Juros no Seu Crédito
Como exemplo temos 4 tipos de crédito, nomeadamente, crédito habitação, crédito automóvel, crédito pessoal e cartão de crédito. Apesar de ser um exemplo, muitas famílias acumulam estes tipos de créditos.
Dados do Exemplo:
- Crédito Habitação: 100.000 euros por 360 meses | Taxa de juro: Eur6m + 2,50%;
- Crédito Automóvel: 25.000 euros por 60 meses | Taxa de juro: Eur6m + 7,50%;
- Crédito ao Consumo: 2.500 euros por 24 meses | Taxa de juro: 14%;
- Cartão de Crédito: Pagamento mínimo igual a 10% da divida | Montante: 1.000 euros | Taxa de juro: 18%.
Tabela de Resultados:
Como pode verificar o peso dos juros no orçamento mensal do nosso exemplo, ascende os 47% do pagamento global das prestações, ou seja, por cada 100 euros de prestações, 47 euros é pagamento sob a forma de juros ao banco e os restantes 53 euros é amortização de capital. Esta grandeza pode impressionar os menos atentos ao peso do crédito nos orçamentos mensais.
É ainda de salientar que a maior contribuição dos juros é via crédito habitação, sendo que, as primeiras prestações deste tipo de crédito absorvem mais de 70% do valor da prestação em forma de juros. Este cenário explica o porquê da dúvida que surge no primeiro paragrafo deste artigo.
Apesar do peso dos juros no crédito habitação não podemos nos desligar dos outros tipos de crédito, pois as taxas de juro dos mesmos são bastantes superiores às taxas de juro no crédito habitação.
Por exemplo, optar pelo pagamento parcial do cartão de crédito ou até mesmo pelo pagamento mínimo do mesmo representa um peso incrível global, pois a taxa de juro dos cartões de crédito rondam em média os 18%. O nosso exemplo pelo pagamento mínimo levaria mais de 76 meses a liquidar uma simples conta de 1.000 euros e renderia ao banco mais de 170 euros de juros. É um negócio brilhante.
O que Fazer para Diminuir o Peso dos Juros no Seu Crédito
Depois de contratado o crédito apenas a renegociação das condições permitirá uma poupança de juros. Uma forma popular para redução dos juros é solicitar uma revisão da taxa de juro, no entanto, este tipo de procedimento já deu frutos no passado. Atualmente os bancos estão pouco receptivos a negociação em baixa dos juros do crédito e quando o fazem solicitam contrapartidas que poderão pesar no orçamento do cliente, como por exemplo, a subscrição de seguros ou adesão a um cartão de crédito.
Uma forma de diminuir o peso dos juros em termos globais é efetuar amortizações parciais antecipadas permitindo eliminar os juros a pagar pelo capital amortizado. A legislação permite a concretização deste procedimento com alguma proteção, impedindo os bancos de cobrar comissões.
Independentemente da forma utilizada para redução do peso dos juros não existe melhor dica senão a de evitar a todo custo contratar mais crédito quer seja via crédito individual ou através de mecanismos de crédito fácil, como os descobertos bancários ou cartões de crédito.
A utilização responsável do crédito deverá passar pela consciencialização do peso do mesmo e de quanto dinheiro do presente terá de desperdiçar para satisfazer desejos do futuro. De notar que se esquecer a importância de um orçamento familiar saudável e se ignorar as regras básicas da poupança certamente que terá más experiências. O Sobreendividamento e os problemas financeiros são sérios demais!