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Demitimo-nos do essencial…

Tivemos há poucos dias mais um dia de eleições em Portugal, eleições que vieram confirmar uma tendência de há muito. Infelizmente, confirmaram o agravamento do afastamento entre a classe política e os eleitores, com o aumento da taxa de abstenção. Sendo certo que importa fazer uma reflexão sobre este afastamento, importa ainda mais que cada um pense nos motivos pelos quais este direito é desprezado e nos motivos pelos quais não cumpre com um dever cívico.

Penso que os motivos superficiais apontados escondem algo mais profundo. Simplesmente temo-nos vindo a acomodar na vida e acabamos por nos demitir de deveres sérios que comprometem o nosso futuro individual e de grupo. Isto é visível, por exemplo, quando falamos com as pessoas que pedem ajuda à Reorganiza. Vemos o desespero de muitas famílias que vivem ilusões, que se enganam a elas próprias e que se demitem de aprender, o que leva a decisões financeiras ruinosas. E isto acontece porque aprender dá trabalho. Dizer não é difícil. Definir objetivos é bonito, mas batalhar para os atingir é que é penoso. Queremos aquilo que é nosso por direito sem dar aquilo que é nosso por dever. Porque é mais fácil exigir dos outros do que exigir de nós próprios, talvez porque tenhamos invertido a escala de valores com que nos regemos. Vivemos agora muito mais apegados aos bens materiais e fechados em nós próprios. Procuramos conforto e consolação no consumo (atenção, estamos com níveis de consumo nunca antes vistos) esquecendo-nos do verdadeiro significado das nossas vidas.

Sim, os bens materiais são bons e a vida é para ser vivida. Mas para vivermos em sociedade temos não só de olhar para os nossos direitos mas, talvez mais importante, para os nossos deveres. Naquele dia, a nossa obrigação era votar. Hoje, a nossa obrigação é mudar!

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