Deixamos a entrevista a João Raposo, o nosso diretor comercial que nos fala um pouco sobre a sua visão da crise atual e das formas de sairmos dela. Conheça as opiniões de João Raposo e partilhe connosco as suas!
-
Como vê a situação atual de Portugal? Está mais otimista do que no passado?
Assim como as moedas têm sempre dois lados, também as realidades podem ser vistas de perspetivas diferentes. A crise que se sente em todos os sectores e que parece não deixar ninguém de fora, pode ser vista como algo que nos desanima e que nos tira o estímulo para trabalhar e construir riqueza à nossa volta, mas pode ser entendida como oportunidade de agir de novas formas e pôr à prova a nossa capacidade de adaptação.
Creio que embora os indicadores económicos ainda não sejam o que gostaríamos, a atitude não pode ser de derrotismo e de descrença face a um país melhor. Há, sem dúvida, problemas estruturais em Portugal: o “estadão” (dimensão exagerada do Estado na economia nacional), a burocracia que aguarda pela verdadeira reforma do Estado, a falta de especialização profissional, uma economia demasiado dependente da construção civil, etc. Contudo, tem sido consolador ver o aumento significativo do empreendedorismo, a capacidade de tantos desempregados que conseguiram “atirar-se” para novos negócios, as exportações a crescer, o sector têxtil e do calçado com crescente reconhecimento internacional, entre outras.
A verdade é que a crise pode ser tempo de purificação e de relançamento da economia. O país não vai acabar e de nós depende fazer com que ele avance para um novo rumo, um rumo que não repita os erros do passado. Por isso, acredito que a situação do país tem-nos ajudado a melhorar em alguns indicadores e que, embora ainda não seja o que esperávamos, estamos a caminhar para um ano melhor que o anterior.
-
Como justifica termos chegada à situação atual?
Há muitas teorias para tentar perceber o que aconteceu para chegarmos a esta situação. De todas elas parece haver um sentimento comum: não soubemos atuar a tempo e, em tempos críticos, os nossos agentes políticos enterraram a cabeça na areia para garantir que a “bomba” não lhes explodia nas mãos.
Como já tive oportunidade de referir acima, a economia portuguesa sofre de um excesso de dependência do sector da construção e a partir do momento em que rebentou a bolha da especulação imobiliária de 2008 e o famoso subprime, foram poucas as nossas empresas deste sector que se aguentaram. Com o sector da construção em crise seguiram-se muitos outros como se desmoronasse um castelo de cartas.
Com a falência de muitas PME’s, os despedimentos das poucas empresas que sobreviveram e os elevados níveis de endividamento das famílias, a gestão das finanças pessoais ficou, em muitos casos, incontrolável. Era raro passar uma semana sem ouvir “Já sabes que o fulano foi despedido?”. Para quem vivia com elevado recurso ao crédito e não conseguiu pensar a vida com alterações das circunstâncias no médio/longo prazo, a crise tem deixado marcas difíceis de remover.
Resumindo, as justificações que encontro são de diferentes ordens: problemas estruturais na economia nacional, crise nos mercados sobretudo devido à ganância do sector bancário e a falta de planeamento das famílias portuguesas.
-
Quais os principais erros das famílias portuguesas na gestão do seu dinheiro?
Penso que estamos pouco habituados a falar de forma saudável sobre o dinheiro e que quando falamos, normalmente, é porque a situação já está crítica… e costuma-se dizer com sabedoria que “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. Por isso, começaria por apontar a falta de diálogo como uma das maiores dificuldades na gestão financeira familiar. Para além desta atitude de ocultamento das dificuldades, há uma outra característica que traz graves consequências e que agora até há um banco que explora com graça, esta característica tão nossa: a inércia!
Somos capazes de demorar meses a escolher uma peça de roupa antes de ter a certeza que vamos fazer uma compra inteligente, mas na altura de contratarmos uma responsabilidade de crédito, que nos pode levar a um compromisso de um novo encargo financeiro durante 12, 24, 48, 120 meses, não temos o mesmo cuidado. Pelo que diria que outro dos principais erros que encontramos nas famílias portuguesas é a iliteracia financeira no contacto com os bancos e instituições de crédito. Como posso aceitar um cartão de crédito que me é “dado” num centro comercial sem perceber as consequências que traz à minha vida a utilização do mesmo?
Mas o que nos vale é que os erros são sempre oportunidades de aprender!
-
Quais as principais estratégias para evitar/corrigir estes erros?
No seguimento da resposta anterior sou levado a afirmar que as famílias deviam procurar crescer na literacia financeira e que esta se estendesse a todos os elementos do agregado. Cada vez há mais publicações feitas para ajudar as pessoas que não têm conhecimentos financeiros a aprenderem a gerir melhor as contas pessoais. Procure nas livrarias, na internet ou empresas especializadas em aconselhamento financeiro o apoio para recompor as finanças pessoais.
Para além da atitude de prevenção (através do investimento na formação), também existem mecanismos ao dispor das pessoas para corrigir situações de sobreendividamento. Mas aqui, mais uma vez, sou levado a aconselhar que procurem aconselhamento de profissionais.
-
Quais os principais ensinamentos que recebeu dos seus pais sobre dinheiro?
Aproveito esta pergunta para assumir que também eu tenho as minhas dificuldades em saber quais as melhores decisões na gestão do meu dinheiro, pois não estamos a falar de uma ciência exata, por isso, que ninguém se sinta só neste desafio de melhorar a gestão das finanças pessoais. Mas há realmente ensinamentos que podemos incutir nas crianças e que a mim me ajudaram muito.
Em minha casa sempre se falou de dinheiro como algo que não é garantido e que devíamos ter a consciência que o dia de amanhã pode trazer surpresas que não controlamos. Aprendi a partilhar tudo entre os irmãos, sendo que, com isso, tive de ganhar personalidade por ser dos únicos na escola que não tinha a roupa com aquela marca ou os ténis da moda. A uma certa altura da vida os meus pais davam-me uma mesada que era entendida não como um plafond para gastar durante o mês, mas como um desafio para gerir os meus “apetites”. Muitas foram as vezes em que não gastava dinheiro no imediato porque sabia que poderia vir a precisar desse dinheiro para outras coisas mais importantes. O testemunho dos meus pais era coerente com o que pediam de mim, por isso quando recebia um “não” porque queria ter de presente uma “Mega Drive” ou simplesmente comer um chocolate quando ia ao supermercado com a minha mãe, percebia que os meus pais também não compravam para eles o que não era necessário. As crianças aprendem muito por imitação!