Ex.pe.ta.ti.va: nome feminino. Esperança fundada em promessas ou probabilidades; expectação
O célebre romance de Dickens vai-se desenvolvendo ao longo desta ideia principal: alguém depositou em si grandes esperanças!
O tema da expetativa, do impacto e da gestão da expetativa sobre nós próprios e sobre os outros sempre me intrigou. Na minha prática de coaching o mesmo acaba por surgir, inevitavelmente, em quase todos os processos que acompanho.
E o que o torna tão interessante, na minha perspetiva?
Na verdade, o que à partida poderia ser algo de muito positivo e desejável, alguém acreditar, investir e torcer por nós (depositar em nós grandes esperanças!), pode – em determinadas circunstâncias – funcionar como uma armadilha, ou mesmo uma prisão. Tal pode ocorrer tanto na esfera pessoal como profissional e importa tomar consciência plena sobre este mecanismo.
Pode revelar-se das seguintes formas:
O que o outro espera de mim
Quem não teve já um líder/chefe com esperanças desfasadas sobre aquilo que sou, posso dar ou o que mais gosto de fazer profissionalmente? É caso para perguntar quem criou esta projeção, se fui eu ou outro, e qual de nós dois (ou ambos) a está a alimentar, ainda que de forma inconsciente.
Muitas vezes, o que o outro espera de mim revela mais os seus desejos e as suas próprias limitações e projeções e, com efeito, pode até ter pouco ou nada a ver comigo, com quem realmente sou, com as minhas ambições e vontade.
Se, na senda de obter o agrado ou reconhecimento do outro, entro no seu jogo, acabo por me sentir aprisionado, aquém do que gostaria de ser ou das escolhas que considero mais adequadas para mim.
Para muitos, é o suficiente para ativar processos internos de autossabotagem: será que se o outro pudesse ver exatamente como eu sou, continuaria a apostar em mim? Será que valho esse investimento? Não seria mais seguro eu ficar na minha zona de conforto, sem chamar muito a atenção…
O que eu espero do outro
O mesmo mecanismo também funciona em sentido inverso. Enquanto líder, é caso para me questionar se o que eu espero das pessoas da minha equipa, é algo que realmente queiram e possam dar ou se é, apenas, fruto da projeção que idealizei ou mesmo de competências que sinto que não tenho e que espero que o outro colmate, de alguma forma.
É verdade que devemos alinhar aquilo que se espera de uma determinada tarefa ou função (logo em sede de recrutamento), não obstante, convém que se estabeleça uma comunicação assertiva e transparente para que o outro fique com uma noção realista daquilo que se espera. Dá-se, assim, ao outro a oportunidade de escolher.
Por outro lado, ao aprisionar o outro nas minhas expetativas, posso estar a perder uma oportunidade de receber aquilo que realmente a pessoa pode e sabe dar.
O que eu espero de mim próprio
Esta poderá ser a pior das três armadilhas. Sem estar realmente alinhado com aquilo que sou, o que posso e quero dar na minha esfera pessoal e profissional, posso perder a noção da realidade, tornar-me hiper perfecionista ou frustrado e exigir de mim algo que não posso nem, se for realmente honesto, quero dar.
Pode, também, perpetuar a sensação que estou sempre aquém do que as várias situações e pessoas esperam de mim.
Conclusão
Em conclusão, o problema não é termos ambições e esperanças sobre nós próprios e sobre os outros, tal é saudável e até bem desejável, numa certa medida. O desafio, é quando tais expectativas não são acompanhadas de uma leitura realista da realidade. Olhar verdadeiramente para o outro. Olhar verdadeiramente para mim próprio. Quando utilizo o outro como meio para realização de algo que gostaria de ter alcançado por mim mesmo.
E se o líder formar e gerir a sua equipa, ao invés de com base naquilo que idealizou, com base nos profissionais que efetivamente tem à sua frente, nas características e competências que os tornam únicos na sua diversidade? Não poderá alcançar melhores frutos e beneficiar de uma cultura mais transparente e genuína?
Com a maestria de procurar retirar o melhor de cada um.
Inês Raposo – Executive Coach
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