O Dia Mundial da Poupança tem sido uma oportunidade para reforçar a urgência de examinarmos os nossos hábitos e tomar decisões que nos ajudem a contrariar a tendência nacional de sermos um país com uma baixa taxa de poupança. Mas qual a razão para sermos tendencialmente um país com pouco foco na poupança?
Oiço vários argumentos para justificar esta realidade, que têm sempre algum fundo de verdade, mas que podem ser motivo de nos paralisar a mudar hábitos. E como é difícil mudar um hábito…
Argumento #1: Ganhamos pouco
Partir do pressuposto que precisamos de ganhar muito para começar a poupar é uma falácia. Reparem que o índice da taxa de poupança não mede o valor absoluto de poupança, mas sim o rácio entre o valor que recebemos e o valor que não gastamos. Posso partilhar que a experiência que tenho tido de acompanhar de perto centenas de famílias a melhorar o seu orçamento levam-me a afirmar que muitas vezes quem recebe menos contribui mais para a taxa de poupança do país, do que quem recebe mais. É impressionante verificar como pessoas que recebem tão pouco por mês não deixam de deixar de parte, logo no início do mês, um valor que vai direto para as suas poupanças. Pelo contrário, são várias as famílias que recebem acima da média e que acabam o mês com o saldo disponível próximo do zero. Na esmagadora maioria dos casos é uma questão de fazer escolhas.
Argumento #2: Os bancos pagam mal
Este argumento tem a sabedoria de perceber que o dinheiro parado está a desvalorizar. E, realmente, a maior parte dos produtos de poupança têm retornos abaixo do valor da inflação e, assim sendo, não estamos a fazer crescer o nosso património quando pomos o nosso aforro num Depósito a Prazo ou algo do género. Para tirar rentabilidades maiores teremos sempre de aceitar o risco como ingrediente da estratégia financeira. Mas optar por não poupar porque a remuneração é baixa é ter uma postura de “perdido por 100, perdido por 1.000”. E isso não é inteligente! Se acha que os bancos pagam mal, procure mais informação sobre estratégia de investimento para que as suas poupanças estejam realmente a trabalhar para si. Procure, por exemplo, aconselhamento em serviços como o coaching financeiro.
Argumento #3: Temos demasiadas responsabilidades fixas mensais
Uma das razões pela qual são muitas vezes as pessoas que recebem acima da média aquelas que têm maior dificuldade em poupar, é porque também são estas as que conseguem recorrer mais a crédito e assumir mais responsabilidades mensais com credores, seguros, etc. Se é este o argumento para não poupar, então está na hora de “pôr as mãos à obra” e assumir que precisa de ajuda para esta reorganização das suas finanças pessoais. Lembre-se que quando partimos para um processo de renegociação dos nossos créditos ou seguros só nos pode acontecer uma de duas coisas: ou ficamos iguais, ou melhores! Ninguém vai alterar um contrato se isso fizer com que fiquemos piores. Já foram milhares as pessoas que beneficiaram de poupança porque fizeram a transferência do seu crédito habitação e ainda há muitas mais milhares de pessoas que o podem fazer. O mesmo se pode dizer quando decidimos pedir um mediador de seguros que analise todos os seguros que temos de forma verificar se há formas de poupar com este tipo de produtos que existem para nos deixar mais descansados e não mais stressados! Tudo isto sem qualquer custo. Só com proveito!
Qual é, então, a melhor estratégia para aumentar a nossa taxa de poupança?
São muitas as estratégias que já deveremos ter ouvido falar, desde o tradicional porquinho mealheiro, até aos truques de como ir às compras, a estratégia das 52 semanas, criar desafios para toda a família diminuir os gastos com determinados consumos, etc. Tudo isto é recomendável e muito útil. Mas acredito que um hábito será tanto mais robusto quanto tiver presente o benefício que daí advém. Ou seja, recomendo vivamente que neste Dia Mundial da Poupança, em vez de começar a redesenhar novos propósitos e fazer promessas de alteração de comportamentos, que façamos um exercício de pensar: para que é que poupo? Qual o benefício que vou ter com este esforço?
Acredito que a melhor estratégia para aumentar a taxa de poupança passa por mudar a forma como olho para este tema e passar a ter o foco no “para quê” da poupança! Assim, qualquer decisão que tome será muito mais poderosa e duradoura!
João Raposo
Sócio fundador e Administrador da Reorganiza