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Há já muito tempo que não abordamos a temática das obrigações. Desde desse tempo, muitas oportunidades de investimento foram colocadas a negociação junto de clientes bancários, como por exemplo, as obrigações da EDP, REN, Semapa, entre outras.

Na altura, não dedicamos o devido tempo à discussão das emissões em causa devido à expectativa de que não haveria grande interesse do investidor normal neste tipo de investimento, no entanto, nas diversas emissões a procura superou a oferta e muitos clientes bancários subscreveram obrigações com a expectativa de receber juros elevados no futuro.

Este cenário revelou dois pontos importantes;

  • Os clientes bancários estão mais sensíveis a questões de educação financeira e compreendem claramente o que são obrigações:

Ou

  • Compraram gato por lebre.

Acredito mais no segundo ponto, visto que a grande maioria dos clientes bancários não estão habituados a investir em produtos de risco, independentemente do tipo de produto. Com isto não pretende afirmar que as emissões de obrigações anteriores não são actractivas, mas sim, afirmar que a grande maioria dos clientes bancários não sabem exactamente o que são obrigações e quais os risco envolvidos.

Todavia, vamos procurar esclarecer alguns itens relacionados com obrigações, sempre na expectativa de informar sobre eventuais riscos existentes nestes investimentos.

Conceito de Obrigações

O tema é popular e todos sabem que representam emissão de divida de uma empresa ou Estado.

Informalmente é um pedido de empréstimo por parte de uma empresa ou Estado ao mercado, prometendo a devolução desse empréstimo, acrescido de juros, no prazo definido pelo emitente.

Vejamos a emissão de obrigações que está a decorrer da Mota-Engil até dia 13 de Março que não é nada mais senão uma aposta da Empresa em se financiar junto do mercado, visto que junto dos bancos o financiamento não está assim tão acessível.

Aceita-se a intenção das empresas e dos Estados em se financiarem junto das pessoas ao contrário do que tradicionalmente acontecia, ou seja, financiamento junto de clientes institucionais. Todavia, o mercado não está completamente preparado para o efeito.

Senão vejamos…

Sabem, a grande maioria dos clientes bancários, que obrigações oferecem risco e que nada é garantido?

Sabem que, no nosso exemplo, o sector onde se insere a Mota-Engil em Portugal está em queda e sem previsões de melhoramento?

Sabem os investidores, no mesmo caso, que existe risco Pais onde a Mota Engil opera?

Este tipo de informações não são disponibilizadas para a grande maioria dos clientes. No entanto, são informações importantes.

É mais fácil e verificável numa emissão de obrigações a disponibilização de indicadores positivos aos potenciais investidores do que a menção de eventuais ameaças ao desenvolvimento da actividade da empresa.

Risco em Obrigações

Pouco se fala sobre os eventuais riscos na compra de obrigações, independentemente de estas representarem uma emissão de uma empresa ou uma emissão de um Estado. O certo é que, nestes produtos de risco, por diversas vezes dá-se mais importância à taxa de juro.

Todavia, fica aqui uma listagem de potenciais riscos nas obrigações que não estão assim tão espelhados mas que são perfeitamente aceites pelos investidores.

  • Risco Sector

No caso das empresas o risco do sector é extremamente importante. Por exemplo, o sector da energia e da alimentação apresenta menos risco em termos de continuidade do que o sector da construção ou automóvel.

  • Risco País

As empresas com grande presença internacional estão sujeitas ao risco do Pais onde operam, principalmente se a actividade desenvolvida nesse Pais seja significativa para as contas contabilísticas.

  • Risco de Gestão

A gestão da empresa é igualmente um indicador relevante pois uma empresa com uma gestão débil poderá colocar a continuidade da mesma em causa;

  • Nível de Risco Contabilístico

Uma análise contabilística à empresa é fundamental com o objectivo de apurar o nível de risco da empresa. Começando por analisar alguns rácios financeiros, como por exemplo, autonomia financeira, solvabilidade, liquidez, e terminar com uma análise cuidada do passivo da empresa.

  • Risco do Rateio

Quando existe possibilidade de ocorrer rateio na compra de obrigações devido ao excesso de procura perante a oferta poderá ocorrer uma diminuição da rentabilidade efectiva, ou da taxa de juro efectiva do investimento.

Mesmo a nivel da emissão de obrigações de Estados existe sempre o risco de:

  • Renegociações da dívida;
  • Perdões;
  • Entre outros…

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Taxa de Juro Bruta Liquida e Efectiva Liquida

Tal qual a constituição de um depósito a prazo a taxa de juro anual das obrigações estão sujeitas ao mesmo imposto a fim de apurar a taxa de juro liquida das obrigações.

Vejamos um exemplo:

A taxa de juro anual bruta da emissão de obrigações da Mota-Engil é de 6,85% ao ano. Assim sendo a taxa de juro líquida será:

  • TAL = TANB x ( 100% – Imposto)
  • TAL = 6,85% x (100% – 28%)
  • TAL = 4,93%

onde, TAL representa Taxa Anual Líquida e o imposto actual é de 28%.

Quanto à taxa anul liquida efectiva temos que adicionar ao calculo outros elementos, como por exemplo, os custos de intermediação dos bancos, nomeadamente e a existir;

  • Comissão de subscrição;
  • Comissão de custódia;
  • Comissão de pagamento de juros;
  • Comissão de reembolso.

Estes custos estão presentes no preçários das obrigações dos bancos, pelo que deverão ser solicitados antes de efectuar a compra das mesmas

Vejamos o mesmo exemplo da obrigações da Mota Engil prossupondo hipoteticamente os seguintes custos:

  • Comissão de Subscrição: 0,5% sobre o montante da subscrição;
  • Comissão de custódia: 10 euros trimestais;
  • Comissão de pagamento de juros: 1€;
  • Comissão de reembolso: 5 euros.

Imagine que vai efectuar um investimento de 5 000 euros em obrigações da Mota Engil que possui um prazo de reembolso de 3 anos, à taxa bruta anual de 6,85%.

Em termos líquidos de imposto receberia 246,50 euros de juros por ano, ou seja, 739,50 euros de juros líquidos em todo o prazo.

Somando os custos com a compra, gestão e reembolso, teríamos o seguinte valor:

  • Comissão de Subscrição: 25 euros;
  • Comissão de Custódia: 16 trimestres | 160 euros;
  • Comissão de processamento de juros: 6 semestres | 6 euros;
  • Comissão de reembolso: 5 euros

TOTAL: 196 euros;

Rentabilidade efectiva liquida da operação é de (739,50 – 196) 543,50 euros nos 3 anos o que corresponde a uma taxa anual liquida efectiva de 3,62%.

Se aplicar a fórmula de juros simples chega lá rapidamente, senão vejamos…

  • J=C x N x I

Onde;

  • J = juros líquidos 3 anos;
  • C= capital investido;
  • N= Prazo;
  • I= taxa de juro liquida efectiva

543= 5000 x 3 x I | 543= 15000 x I | 543 / 15000 = I | I = 0.0362 = 3.62%

Dá que pensar se vale a pena o risco investir em obrigações? É certo que é preciso avaliar quem está a emitir obrigações pois, poderá ser interessante o risco.

O Rateio e a Taxa Anual Liquida Efectiva

Anteriormente falei sobre o risco de rateio e não alonguei muito o texto, pois era necessário clarificar o conceito de taxa anual líquida efectiva.

Regra geral o rateio existe quando a procura supera a oferta. Assim sendo e supondo que um determinado emitente coloca no mercado um determinado montante de obrigações e que a procura supera a oferta, para satisfazer todos os interessados cada investidor só vai subscrever uma parte do que pretende investir.

Dentro das opções de rateio a mais popular é a existência de um mínimo por parte do emitente para cada investidor e acima desse mínimo ocorrer o rateio.

Agora vejamos o efeito do rateio na taxa anual líquida efectiva. Tendo em conta o nosso exemplo, caso ocorre-se rateio e apenas fosse possível subscrever 2000 euros dos 5 00 euros o cenário final seria o seguinte:

  • Juros líquidos no final do prazo: 295,80 euros;

As comissões:

  • Comissão de Subscrição: 10 euros
  • Comissão de Custódia: 16 trimestres | 160 euros;
  • Comissão de processamento de juros: 6 semestres | 6 euros;
  • Comissão de reembolso: 5 euros

TOTAL: 181 euros;

Rentabilidade efectiva líquida da operação será de (295,80 – 181) 114,80 euros nos 3 anos o que corresponde a uma taxa anual liquida efectiva de 1,91% o que é completamente diferente do exemplo anterior.

Daqui retira-se que o rateio é extremamente importante, pois pode retirar todo o benefício nos investimentos menores.

É certo que alguns bancos não possuem comissões fixas para a comercialização das obrigações, ou seja, ao contrário do nosso exemplo, todas as comissões podem ser uma percentagem do montante investido.

Todavia, em ambos os casos é necessário apurar a taxa anual efectiva liquida afim de apurar a atractividade do investimento.

Finalizando

Apurando a taxa anual liquida efectiva de uma obrigação um dos factores interessantes a validar é a comparação com um activo sem risco, como por exemplo, os depósitos a prazo.

Se da comparação resultar uma diferença reduzida é de ponderar se vale a pena o risco da operação tendo em conta que, sem qualquer risco obtem um investimento de rentabilidade semelhante.

Até já…

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